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segunda-feira, 17 de maio de 2010

NATAL AVANÇA NA CIRURGIA DO CÉREBRO

Um passeio pelo corpo humano que tem o poder de curar. Assim pode ser definida a técnica da neuroradiologia, que em Natal tem o Hospital do Coração como protagonista há cinco anos, quando o professor francês Luc Picard passou a ser consultor da equipe potiguar. A neuroradiologia é uma técnica de tratamento para doenças no cérebro e na medula espinhal por meio de microcatéteres que percorrem os vasos cerebrais para tratar aneurismas, má formações arteriais, tromboses, entre outras.

Os catéteres são inseridos através do fêmur, na arteria femural e por aí fazem caminho até o cérebro. Com a técnica, desenvolvida há 40 anos e cada vez mais eficaz no tratamento de doenças neurológicas, os médicos têm acesso a regiões de difícil acesso do cérebro sem intervenção cirúrgica e, portanto, com menos possibilidade de “agredir” regiões do órgão que nada tem a ver com a doença em questão. Como o método é mais objetivo – vai em cima do problema sem precisar “abrir” o crânio – os benefícios são autoevidentes. “Antigamente, quando se falava em cirurgia no cérebro, era comum aceitar que existiriam seqüelas, como paralisias. Era o chamado “preço a pagar”. A tendência com essa técnica é que esse “preço” seja cada vez menor”, explica o professor Luc Picard, que conversou com a reportagem da TRIBUNA DO NORTE com a mediação do neurocirurgião, Eduardo Ernesto.

A neuroradiologia não é uma técnica necessariamente nova. Existe há cerca de 40 anos e surgiu na França. Em Natal, é realizada desde 1999. Após o início na Europa, as pesquisas tomaram o rumo dos Estados Unidos, que também desenvolveu o método. O professor Luc Picard foi um dos pioneiros no assunto, tendo sido aluno do professor René Djindijan, praticamente o inventor da técnica. Da Europa para Natal, o caminho foi pavimentado pelo médico Eduardo Ernesto. Eduardo foi aluno de Luc Picard na França e fez o convite para a consultoria em Natal, no Hospital do Coração. De acordo com o neurocirurgião, a consultoria é feita de forma “desinteressada”, sem compensações financeiras. “Temos o privilégio de contar com um pesquisador de nível mundial em nossos quadros como consultor. Essa consultoria começou há cinco anos e tem ajudado bastante na resolução de casos e treinamento de nossos profissionais”, afirma Eduardo. E complementa: “Nos Estados Unidos, é comum que professores consagrados passem a colaborar com empresas”.

A cooperação se dá da seguinte forma: o professor Luc Picard passa dois meses de cada ano em Natal, auxiliando nos casos mais complexos e participando do acompanhamento e das decisões acerca de cada paciente. Cerca de 90% das pessoas atendidas são referentes ao convênio que o Hospital do Coração tem com o Sistema Único de Saúde na área de neurocirurgia. A consultoria ao Hospital do Coração é inédita. “Tenho certeza que nenhum outro hospital do país tem a oportunidade de trabalhar com um profissional desse quilate”, afirma Eduardo Ernesto. O professor Luc Picard acrescenta que faz consultorias pontuais em outros estados, a convite, e de forma excepcional. “Mas de forma sistemática apenas aqui”, afirma.

As visitas periódicas do professor Luc Picard vêm suprir uma demanda fundamental para a evolução e consolidação da técnicas: a formação de mão de obra qualificada, não somente em termos clínicos como também em pesquisa. No Rio Grande do Norte, não há pesquisa acadêmica, ligada a universidades, em neuroradiologia intervencionista. Porém, a pesquisa clínica é realizada justamente nesse espaço dos atendimentos no Hospital do Coração. A posteriori, esses casos atendidos pela equipe – alguns deles em conjunto com o professor Luc Picard – são apresentados em congressos e encontros sobre o tema. No próximo ano, Natal receberá um Encontro Nacional de Neurocirurgia, onde haverá um dia dedicado à neuroradiologia.

O tema é recorrente nos meios científicos e tende a evoluir para métodos cada vez mais complexos e eficazes no tratamento de doenças cerebrais. A neuroradiologia hoje trata em duas frentes, principalmente, a desobstrução de vasos, no caso da trombose, e a oclusão de vasos problemáticos, como é o caso dos aneurismas. No futuro, e com a crescente compreensão dos papéis de cada área do cérebro, será possível ser cada vez mais específico. O tratamento será bastante objetivo na área “doente” do órgão, diminuindo as sequelas em outras áreas não-doentes no momento da intervenção. “Isso estará aliado a utilização de materiais cada vez menores, mais ainda que os microcatéteres. Esses materiais terão acesso a áreas cada vez mais remotas do cérebro”, encerra.
Fonte: Tribuna do Norte

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