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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Comprovação bioquímica

Pesquisadores descobrem ligação concreta no cérebro entre estresse, ansiedade e depressão

O estresse e a ansiedade são conhecidos fatores de risco para a depressão, doença que acomete, atualmente, cerca de 121 milhões de indivíduos em todo o mundo. Embora os indícios da conexão biológica entre os três transtornos fossem considerados evidentes, o mecanismo no cérebro responsável pela ligação entre eles ainda não havia sido descrito efetivamente. A interação entre estresse, ansiedade e depressão, no entanto, acaba de ser comprovada por um grupo de cientistas do Robarts Research Institute, na University of Western Ontario, no Canadá. A descoberta poderá abrir caminho para desvendar como se encaixam as peças do complicado quebra-cabeça bioquímico que alimenta essas patologias psiquiátricas, muitas vezes, negligenciadas.

A pesquisa também resultou no desenvolvimento de um inibidor molecular que poderá, de acordo com os próprios pesquisadores, revolucionar o tratamento desses distúrbios. A bióloga brasileira Ana Cristina Magalhães é uma das cientistas envolvidas no achado. A pesquisadora explica que a conexão biológica identificada por ela e pelos colegas envolve o receptor de fator hormonal de liberação de corticotropina (CRFR1), relacionado à principal resposta ao estresse disponível no organismo, e receptores do neurotransmissor de serotonina (5-HTR), ligados à depressão.

"Concentramos a pesquisa no córtex cerebral, porção muito envolvida com a depressão, na qual encontra-se a maior quantidade de receptores 5-HTR. Verificamos, porém, que a CRFR1 também é encontrada nessa região. As duas proteínas tanto estão presentes em uma conexão anatômica nas mesmas células quanto interagem no interior dessa estrutura", pontua Ana. Essa interação ativa o CRFR1, que aumenta a quantidade de 5-HTR disponível nas células cerebrais, potencializando o risco de transtornos ansiosos e depressivos.

É o que foi confirmado, na prática, com os testes realizados em camundongos. "O segredo está nas proteínas que ficam na superfície das células. Quando o receptor do fator liberador de corticotropina (CRFR1) recebe umestímulo externo, é ativado e se encaminha para o interior da célula, onde passa a interagir com o receptor de serotonina. Todo esse mecanismo intensifica a ansiedade e a resposta depressiva", reforça.

Nova droga
Os experimentos nos animais resultaram em outra novidade: o desenvolvimento de um inibidor molecular, passo importante para criação de outras drogas que terão alvo direcionado nos receptores. Os medicamentos atuais bloqueiam o receptor inteiro, inativando praticamente todas as suas funções. "O inibidor será testado nos camundongos também. Queremos verificar se ele bloqueará apenas uma interação do receptor, que seria justamente o aumento da ansiedade. Se funcionar, tudo indica que estamos diante da possibilidade de desenvolver drogas com menos efeitos colaterais para as pessoas que sofrem desses transtornos", adianta a cientista brasileira.

O medo é uma força evolutiva fundamental para os seres humanos. Dependendo da capacidade de resposta do indivíduo, a sensação pode ajudar e evitar perigos potenciais ou ser transformada em um problema patológico. A maioria das pessoas, por exemplo, sente aquele famoso frio na barriga quando precisa falar em público. Cumprida a tarefa, o medo e a ansiedade somem. Para aqueles que apresentam desordens de ansiedade, no entanto, discursar para uma plateia é praticamente impossível. "Os biólogos trabalham para entender como as células integram informações a partir de múltiplos receptores para produzir a resposta adequada. Embora ocorram em conjunto, ansiedade e depressão são transtornos psiquiátricos diferentes", conclui Ana.
Fonte: Diário de Natal 

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