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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Avanço silencioso

Em 2006, Jefferson começou a ter dificuldades para enxergar. Era a chegada do ceratocone, que o deixou com apenas 20% de visão no olho esquerdo
Foto: Marcelo Ferreira

Quando Jefferson Martins Matos, 21 anos, identificou a gradual perda da visão, em 2006, tudo indicava que não passaria de simples miopia e astigmatismo. As imagens cada vez mais embaçadas e as fortes dores de cabeça, entretanto, levaram à desconfiança de uma doença rara na córnea do olho esquerdo de Jefferson, o ceratocone. Caracterizado pela distensão da córnea e pelo afinamento progressivo, o ceratocone é uma doença degenerativa e hereditária, que acomete menos de 0,5% da população em geral. Afeta homens e mulheres em igual proporção e, em 90% dos casos, em ambos os olhos.

Em geral, a doença se desenvolve assimetricamente: o diagnóstico do problema no segundo olho ocorre cerca de cinco anos após o diagnóstico no primeiro. À medida que a córnea se torna afinada e sua superfície cada vez mais cônica, o paciente percebe a diminuição da capacidade visual, moderada ou severamente, dependendo da quantidade do tecido afetado. Coceira e sensibilidade à luz são alguns dos sintomas que afetam o paciente com a córnea curvada. Quando em estágio avançado, a deformação ocular pode levar à cegueira.

Segundo o oftalmologista Daniel Moon Lee, especialista no tratamento de ceratocone e catarata e em implantes intraoculares, a doença inicia-se geralmente durante a adolescência, por volta dos 16 anos. "No entanto, alguns pacientes podem levar mais tempo para descobrir o problema real, achando que se trata de miopia ou astigmatismo", explica o profissional. Ele afirma que o tempo de aparecimento dos sinais de ceratocone também varia para cada paciente, podendo evoluir rapidamente ou levar anos para se desenvolver. "Apesar de mais raros, existem casos de pacientes que apresentam alterações na córnea na infância ou após os 30 anos", comenta.

Para Jefferson Martins, o avanço do ceratocone foi rápido no início da adolescência. O grau de miopia do olho esquerdo aumentou rapidamente, chegando a oito em 2008, quando foi constatado o cone na córnea. "Hoje, tenho apenas 20% da capacidade do olho esquerdo. Apesar de o aumento de grau ter estabilizado desde então, os óculos não conseguem mais melhorar minha visão. Até o fim de setembro, passarei a usar lentes de contato rígidas para correção da córnea", explica.

O uso de lentes de contato é o tratamento mais usado atualmente para a correção do ceratocone. "A lente rígida estabiliza a superfície ocular, proporcionando uma curvatura da córnea mais regular", explica Moon Lee. Por se tratar de uma lente rígida, a adaptação, especialmente sobre a córnea com curvatura muito irregular, não é imediata e deve ser feita com acompanhamento do oftalmologista, que vai testar e adaptar a lente ao paciente. "Aquele que se propõe a passar pela adaptação às lentes consegue grande melhora da qualidade de vida, sem necessidade de procedimentos cirúrgicos", ressalta o médico.


Fonte: Diário de Natal

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