O número de leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no Rio Grande do Norte é 50% inferior ao recomendado pelo Ministério da Saúde. Somente na capital, existem 151 vagas, nas redes pública e privada, quando o necessário seria pelo menos 300. A situação pode piorar caso o Conselho Regional de Medicina (Cremern) interdite alguns leitos que funcionam, segundo especialistas, de forma irregular. A demanda reprimida é outra preocupação. Em alguns hospitais, há casos de pacientes que aguardam por cirurgias há mais de um mês por falta de vagas nesse setor.
As autoridades de Saúde Pública não sabem qual a quantidade exata de pacientes que, nesse momento, aguardam uma vaga nas UTIs. No entanto, de acordo com o presidente da Sociedade Norte-Riograndense de Terapia Intensiva (Sonorti), Antônio Fernando, o índice é elevado. "Não sabemos exatamente esse percentual porque os hospitais não fazem esse acompanhamento. Porém, é certo que há uma demanda reprimida muito alta. O número de leitos é baixo", disse.
A falta de leitos nas UTIs do Estado é assunto discutido há muito tempo. Em abril passado, devido à falta de vagas na rede pública, a juíza Patrícia Gondim Moreira Pereira, da 1ª Vara da Fazenda Pública de Natal, determinou ao Estado do Rio Grande do Norte e ao Município de Natal a instalação ou ampliação de leitos, conforme determinado pela Portaria Ministerial nº 1.101/2002, em um percentual de no mínimo 7% dos leitos totais. A determinação foi confirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado (TJRN) e Estado e Município têm cerca de cinco meses para cumprir a ordem sob pena de pagar multa diária.
Porém, mesmo com a decisão judicial, a população não observa melhorias. Pelo contrário. No dia 18 de maio, a UTI do Hospital Giselda Trigueiro foi transferida para o Hospital Ruy Pereira. O motivo da mudança inesperada foi um curto-circuito na rede elétrica do Giselda que danificou alguns aparelhos. Desde então, os pacientes estão acomodados em uma sala improvisada. O espaço é amplo mas não oferece a mesma comodidade e segurança necessária. "A pior parte diz respeito aos diagnósticos. Estamos aqui, mas todos os exames são feitos no Giselda. Além disso, as roupas e alimentação também vêm de lá. Fica complicado trabalhar assim", relatou Ariane Pereira, infectologista. Na tarde de ontem, quatro pacientes estavam no setor. Não há informações de até quando a UTI do Giselda Trigueiro funcionará de forma improvisada.
Enquanto isso, médicos e pacientes dividem uma outra preocupação. O hospital Ruy Pereira pode sofrer intervenção ética. Em janeiro, os médicos que trabalham no local entregaram um documento à Sonorti relatando as dificuldades e necessidades. Segundo Antônio Fernando, na UTI, que abriga cinco leitos, não há material básico como aparelho de raio-x. "Os médicos nos relataram que há problemas com exames laboratoriais. É difícil manter uma UTI funcionando nessas condições", disse. O Cremern, segundo o presidente, tem conhecimento da situação e deve se pronunciar nos próximos dias.
A TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com a secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) na tarde de ontem. A assessoria de imprensa informou que "há alguns dias, algumas pessoas procuram a secretaria para falar sobre o assunto, mas ninguém está à vontade para falar sobre isso". A Sesap está sem secretário desde o início de maio. Alguns questionamentos foram encaminhados à Sesap, via e-mail, mas não obtivemos resposta.
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