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terça-feira, 23 de agosto de 2011

Queda de idosos pode ser evitável com cuidados simples

Os brasileiros que ultrapassaram os 60 anos já são cerca de 21 milhões. Embora almejada pela maioria dos mortais, a longevidade carrega o ônus de alterações fisiológicas que ameaçam o bem-estar e a saúde. Estudos sugerem que 30% dos idosos caem pelo menos uma vez ao ano e que de 5% a 10% das quedas resultam em ferimentos graves — podendo, inclusive, levar à morte. O último levantamento do Ministério da Saúde demonstra que as quedas de pessoas com idade mais avançada têm assumido a dimensão de uma epidemia no Brasil. O SUS gasta pelo menos R$ 60 milhões por ano em internações para tratar fraturas em pacientes idosos. Geriatras, ortopedistas e neurologistas apontam diversas causas para esse tipo de acidente.

Um estudo norte-americano apresentado no mês passado durante a Conferência Internacional da Associação Alzheimer (AAIC), em Paris, sustenta que as quedas podem representar os primeiros sinais biológicos da doença. Em oito meses, a pesquisa acompanhou 125 idosos sem problemas cognitivos, recrutados nos estudos longitudinais da memória e do envelhecimento do Alzheimer’s Disease Research Center (ADRC), da Washington University. Todos os participantes foram submetidos a um exame de imagens cerebrais, o pet scan (tomografia por emissão de pósitrons) com o marcador PiB — uma molécula fluorescente que permite visualizar a presença de placas amiloides associadas ao Alzheimer.

De acordo com os pesquisadores, resultados com PiB positivo representam um risco de queda 2,7 vezes superior do que quando o PiB é negativo. “Mostramos que, em algumas pessoas, as alterações que afetam o andar e o equilíbrio podem ocorrer antes da deterioração das funções cognitivas”, explica Maria Carrillo, diretora de Relações Médicas e Científicas da Associação Alzheimer. “A queda de um idoso que não tem predisposição a cair pode ser encarada como um fator relevante para uma avaliação de diagnóstico do mal de Alzheimer”, acrescenta.

Os tombos, porém, podem ocorrer pelos mais variados fatores. O mal de Alzheimer é apenas um deles. Os acidentes geralmente estão associados à dificuldade de visão, à deficiência auditiva, ao uso de alguns medicamentos, à perda progressiva de força nos membros inferiores e ao desequilíbrio, além de outras situações clínicas. O ortopedista Denys Aragão lembra que, quando um idoso cai, o risco de ter novamente um acidente nos próximos seis meses chega a 67%. As mulheres caem mais quando comparadas aos homens da mesma idade.

Ele aponta que, no Brasil, as quedas são a sexta causa de morte entre a população com mais de 60 anos. “Para os que já passaram dos 75 anos, os tombos respondem por 70% das mortes acidentais. A intercorrência é um grande limitador da vida dessas pessoas, que, por medo de cair, acabam deixando de andar e se tornando completamente sedentárias e dependentes”, afirma.

Riscos em casa
Por incrível que pareça, as calçadas irregulares, os buracos e a falta de rampas que facilitam a locomoção dos idosos nas ruas não são os maiores vilões dessa população. Ao contrário do que muita gente imagina, 70% das quedas ocorrem dentro de casa. As fraturas no fêmur são as mais comuns. “Por conta dela, grande parte dos pacientes precisa ser submetida a cirurgias e fica acamada por muito tempo, aumentando os riscos de trombose, pneumonia e até morte”, pondera Aragão. Dados do Ministério da Saúde revelam que, em 2007, os hospitais conveniados ao SUS fizeram 32,5 mil internações devido a esse tipo de fratura. Em 2010, esse número já havia pulado para 36,5 mil.

O geriatra Sabri Lackhdari pondera que, se o avanço da idade implica em mudanças fisiológicas relacionadas ao enfraquecimento da musculatura e às alterações da postura e do equilíbrio, é possível e, mais, necessário alterar o ambiente no qual o idoso vive para minimizar o impacto dessas transformações. A casa deve ser adaptada. “Instalar barras de apoio no banheiro, pisos antiderrapantes e iluminar melhor o ambiente é importantíssimo para prevenir esses tombos. Todos estamos sujeitos a eles, mas, para as pessoas mais vividas, esse tipo de acidente tem realmente levado a incapacidade e outras consequências sérias”, reforça o médico, que é diretor científico da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia.

Idosos muito ativos nem sempre se lembram das limitações impostas pelo tempo. “Toda queda deve receber atenção de familiares e médicos. É recomendável levar a pessoa ao hospital mesmo que, aparentemente, tudo esteja bem, pois podem ocorrer hematomas e coágulos que, inicialmente, não são percebidos”, alerta Lackhdari. A dona de casa Rita de Cássia Guedes da Silveira, 84 anos, acaba de dar um susto em seus filhos e netos. Há 15 dias, enquanto regava as plantas do jardim de sua casa em Fortaleza, se desequilibrou e caiu. A queda rendeu fraturas na cabeça do úmero. “Por causa da fragilidade dos ossos dela, os médicos em Fortaleza não quiseram operar. Como minha avó estava se queixando muito de dor, resolvemos trazê-la a Brasília para uma avaliação mais detalhada”, conta a gerente de marketing Monaliza Maia, neta de dona Rita.

Fortalecimento
O servidor público Clóves Fernandes Lima, 62 anos, caiu em situação bem parecida à de Rita de Cássia. Estava lavando a varanda de casa quando escorregou em um piso que era liso e ainda tinha um declive. “Caí sentado. A dor foi tanta que não consegui nem levantar sozinho. Não tive fraturas, mas um hematoma me incomodou por um bom tempo. Até hoje, sinto certo incômodo. Já caí outras vezes, mas fiquei com muito medo desse tombo, porque já operei a próstata e sou safenado”, revela. Depois do episódio, os médicos recomendaram exercícios físicos fisioterapêuticos.

De acordo com Anna Caroline Moura, fisioterapeuta que acompanha Clóves, o trabalho direcionado pode retardar a perda da força, da massa muscular e do equilíbrio. “Propomos um treinamento funcional que simula atividades que o paciente faz no dia a dia. O objetivo é corrigir a postura, trabalhar o equilíbrio, ensinar o idoso a se movimentar sem riscos. Recomendamos esse tipo de trabalho físico a partir dos 55 anos”, pondera. A fisioterapeuta considera que o envelhecimento fisiológico não acompanha necessariamente a idade cronológica. “Há pessoas de 60 anos com condicionamento físico e qualidade de vida melhores do que algumas de 30. O sedentarismo é, sem dúvida, um poderoso inimigo para quem deseja uma vida saudável na velhice”, diz a profisional da Veritas Active Health.
Fonte: Diário de Natal

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