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terça-feira, 18 de junho de 2013

Aprovação do Ato Médico depois de 11 anos de espera

O Ato Médico, projeto que tramita lentamente desde 2002, foi aprovado hoje.
 
 
 
 
A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) aprovou nesta quarta-feira (19) o parecer da senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) relativo ao projeto de lei que regulamenta o exercício da Medicina e define as atividades privativas de médico – o chamado Ato Médico, que segue para o plenário. Acordo entre os senadores da CAS possibilitou a aprovação da matéria com o compromisso de não ser feito pedido de urgência para permitir aperfeiçoamento do texto em Plenário, com a discussão de pontos ainda polêmicos.
 
O senador Paulo Paim (PT-RS) disse que, em conversa com as entidades profissionais, houve acordo para que a proposta passasse na CAS, desde que fosse aprimorada em Plenário. O parecer de Lúcia Vânia rejeita alguns dispositivos do substitutivo da Câmara dos Deputados (SCD 269/2002) ao projeto de lei do Senado (PLS 268/2002), de autoria do ex-senador Benício Sampaio.
 
A relatora observou que o substitutivo da Câmara promoveu poucas alterações ao projeto aprovado pelos senadores. As modificações mais importantes, segundo ela, foram feitas ao artigo 4º, que trata das atividades consideradas privativas de médico. Lúcia Vânia afirmou ainda que o relatório foi feito com a concordância dos conselhos profissionais das áreas de saúde e com o Ministério da Saúde.
 
As mudanças
 
Entre as sugestões da Câmara acatadas pela senadora Lúcia Vânia está a exceção do rol das atividades privativas de médico a realização dos exames citopatológicos e seus respectivos laudos; a coleta de material biológico para realização de análises clínico-laboratoriais; e os procedimentos realizados através de orifícios naturais em estruturas anatômicas visando a recuperação físico-funcional e não comprometendo a estrutura celular e tecidual.
 
Já o dispositivo do substitutivo da Câmara que declara como privativo de médico a emissão de diagnósticos anatomopatológicos e citopatológicos foi rejeitado pela senadora. Ele optou pela manutenção do texto aprovado pelo Senado, que prevê ser privativa de médico a emissão de laudos de exames endoscópios e de imagem, bem como dos procedimentos diagnósticos invasivos e dos exames anatomopatológicos.
 
A senadora afirmou ter elaborado um texto que atendesse à demanda dos médicos, sem gerar conflito com a atuação das demais categorias profissionais de saúde. por se tratar de um tema relevante tanto para a saúde pública como para os profissionais da área. Para ela, o vácuo normativo precisa ser preenchido, pois os médicos não contam com legislação que defina seu campo de atuação, diferente de outras categorias profissionais.
 
- Tudo o que veio da Câmara, na maior parte, que podia, de alguma forma, interferir nas profissões [da área de saúde], foi retirado, disse o senador Waldemir Moka (PMDB-MS).
O senador Paulo Davim (PV-RN) informou que a regulamentação do exercício da Medicina tramita no Congresso Nacional há 10 anos e foi discutida em 24 audiências públicas, realizadas nas duas Casas. Ao citar as diversas profissões já regulamentadas pelo Congresso, entre elas, a de taxista, historiador, garçon e vaqueiro, ele observou ser papel do Parlamento trabalhar pelo consenso, mas não pela unanimidade. O único ponto totalmente consensual, ressaltou, é a necessidade de regulamentar a atividade médica.
 
- Todos são unânimes na necessidade de regulamentação da atividade médica. O Brasil é um dos poucos países que ainda não regulamentou a atividade médica. Nós precisamos, e esta Casa não pode mais se omitir, precisamos e temos de regulamentar a atividade médica. É inadmissível que a consigamos regulamentar 40 profissões e temos algum tipo de prurido em regulamentar a atividade do médico, disse Davim.
 
Discordância
 
Categorias de profissionais da área de saúde, presentes à reunião, manifestaram sua discordância com o texto aprovado. Lurdes Machado, representante da Frente Mineira de Defesa da Saúde, uma entidade formada por conselhos, sindicatos e profissionais da área, disse que o ponto mais polêmico é o inciso I do artigo 4º do projeto, que define como atividade privativa de médico a formulação de diagnóstico nosológico.
 
Na opinião da Frente, todos os profissionais de saúde já realizam esse diagnóstico, por meio de identificação de sinais e sintomas, bem como de alterações anatômicas ou psicopatológicas. Ela explicou que apenas o critério de identificação do agente causador da doença, dentre os necessários ao diagnóstico, é privativo de médico. Assim, a entidade sugere modificação no texto para determinar como atividade privativa de médico a formulação de diagnóstico nosológico médico.
 

domingo, 9 de junho de 2013

'Falta tudo', afirma único médico de cidade no Amapá

Em mais uma matéria sobre o descaso com a saúde pública brasileira, o Jornal Folha de S. Paulo traz um exemplo que é recorrente no país. Profissionais que trabalham e arriscam o seu CRM, tentando exercer a Medicina em regiões que não possuem a menor estrutura e investimento público, como veremos a seguir.
 
Juan Gorena, 64, começa a trabalhar às 8h. Termina o expediente às 13h e volta para o hotelzinho em que mora. Às 15h, o telefone toca e ele precisa retornar ao trabalho. Às 21h, é chamado de novo. Recebe um novo telefonema às 3h. "Eu acordo toda hora e durmo toda hora", diz.
 
 
Gorena é o único médico que atende o município de Amapá (AP), com cerca de 8.000 habitantes. O Estado em que trabalha tem o segundo pior índice de médicos por mil habitantes do país (0,76), segundo o Ministério da Saúde. A média nacional é 1,8.
"Não existe um dia de folga pra mim. E por incrível que pareça, médico também precisa de folga. Estou com um problema dentário, mas como faço, se não posso sair?"
 


 
O boliviano Juan Alfredo Rodriguez Gorena, 64, único medico do município de Amapá(300km de Macapá, que tem 5.000 habitantes).
 
 
Mesmo trabalhando sozinho, o boliviano formado em Minas Gerais não acredita que o programa do Ministério da Saúde para trazer médicos estrangeiros ao país vá resolver o problema. Como a maioria de seus colegas, diz que o pior no Amapá não é a falta de médicos, mas de condições de trabalho.
 
"Temos falta de medicamentos, de esparadrapo, de agulhas. Falta tudo. Não podemos fazer cesarianas porque não temos equipamento de cirurgia", reclama.
"Vai trazer aqui dez médicos cubanos, em todas as especialidades, e vão fazer o quê? Trabalhar nessas condições? Deveriam comprar equipamento, melhorar o pouco que nós temos."
 
"A condição de trabalho é realmente adversa, a ponto de não conseguirmos fazer alguns tipos de cirurgia e de tratamentos clínicos por falta de medicamentos e de condições de diagnóstico", afirma o presidente do CRM-AP (Conselho Regional de Medicina), Dorimar Barbosa.
 
Essa realidade não ocorre apenas no Amapá. Outras cidades brasileiras enfrentam essa mesma problemática. Falta de estrutura e investimentos públicos.
 
O presidente do CRM do Maranhão -o pior Estado no índice do ministério, com 0,58 médico por mil habitantes-, Abdon Murad Neto, concorda: "Faltam condições de trabalho, plano de carreira e salário digno."


 
 
O governo do Amapá realizou recentemente concurso para contratar 200 médicos. Só conseguiu cerca de 80. "É difícil atrair o médico para a Amazônia e mais ainda para o interior", diz o governador, Camilo Capiberibe.
Segundo ele, falta dinheiro para investir na melhoria da saúde. "As condições não são as melhores, mas também não são as piores do país. Acho que isso não é argumento, é mais uma desculpa."
Capiberibe é a favor da ação do governo, mas ressalta que os estrangeiros devem vir ao país sob a condição de trabalharem nos lugares em que há maior demanda.
Segundo o secretário-adjunto de Gestão do Trabalho e da Educação em Saúde do ministério, Fernando Menezes, o programa prevê essa exigência. "O médico estrangeiro vai para esse local para ficar especificamente lá e não pode trocar de município."
 
 
 
Adaptado. Fonte: Folha de S. Paulo. Disponível em:  http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1292206-falta-tudo-afirma-unico-medico-de-cidade-no-amapa.shtml. Acesso em 09 de junho de 2013.